domingo, 20 de fevereiro de 2011

Angustias da vida cega e encenada.

A alma gritava em plena madrugada, e o corpo sentia os espasmos constantes de uma dor brotando, germinando em poros secos, desidratados pela servidão contida em ares de completa solidão.
O momento era de lagrima que escorre pela pele fria, tudo me ligava à morte, a sensação asfixiante e o conforto estofado da imobilidade abaixo da terra. É triste pensar na inutilidade da mente, existir e não ser nada, ser o que não se quer, sendo aquilo que me tornam, aquilo que me tornei, moldado por chuva acida, lapidado por mãos que percorrem o corpo, rasgando, sangrando, cicatrizes internas e externas, repletas de angustias, preso a sensação de diálogos mudos, a mímica paralitica de uma falsa expressão contida - eu grito em mim, pois me falta coragem para gritar em ti o que é obvio - as pálpebras fecham-se aos que existem, morrendo na escuridão forçada dos olhos.
Em cena muda declamo o que sou, por expressões vazias, em cubos planos, imóveis e tortos. A mão tremula sobre o papel risca a folha virgem, cravando traços de uma existência corroída, a tentativa de ser o que se pensa existir, a falsidade humana, falta de calor em mãos gélidas, laços estabelecidos facilmente rompidos pela falta de sentidos.
Quem sente sofre, pois sentir é ser frágil, é o que some e não volta, pois o medo da entrega submerge nosso intimo e se instala por completo em nossos nervos - eu tenho medo, muito medo de me entregar, pois o abismo que me separa é infinito, amedrontando quem espia seu interior - meu silencio emite ondas que perseguem quem grita por vida - suplico por ar - pois é de direito meu o ato de viver, observar o que me cerca e memorizar o que me afeta e tudo me afeta, pois sofro de sentidos.
Analiso e concluo não haver respostas para o que procuro... As línguas cansadas, a pele pálida, o chorar de magoa. Dizer que amo é de mais para quem ouve, pois o medo da dor e tão grande, que a distancia é obtida como necessária para quem sente, o que nos obriga a ser frios, fracos, tolos, doentes da alma, suicidas naturais, um salto livre e nu sobre pedras pontudas, aguardando a queda, ansioso pelo nada, seguido de sangue e lagrimas, assim existo, sou matéria orgânica que ao final apodrece em meio sujo, o que resta de mim são traços, fotografias e memórias alheias, assim concluo minha dor, existo e não existo, E-X-I-S-T-O!
A existência é natural, o sentido que é oculto, a procura desgasta, exige do corpo e da mente, revela e confunde. Compreendo minha loucura como necessária e obrigatória presença em meus dias de angustia e caretice. Verifico que a solidão me persegue, e eu aprecio sua presença, por motivo de força maior é natural a dor, mas insuportável a falsa felicidade fingida e encenada, falsas personalidades, doces amargos, sensações fúteis de prazeres bobos e forçados por fatores abstratos, que nos levam a fantasias, que nos levam a dor.
Exigem-me o sangue, o segredo intimo que percorre meu corpo, furtam-me a esperança de confiança no ser humano, furtam-me a existência, negam-me o direito ao grito, rotulam-me hermético, rotulo-te narciso.
Pela manhã percebo a vida - mais um dia que respiro - lavo o corpo e completamente nu sobre a face do espelho refletida à imagem que sou, percebo minha existência física, mas foge-me a existência da alma, pois me é negado o sopro de vida. O peso de viver, comprime, esmaga, e eu desisto, sou fraco, suicido-me, torno-me parte do circo, marionetes tolas, vidas manipuladas, frases feitas, poemas rasgados, gritos engasgados, vidas fúteis, o que sou então se não o nada? Sou a morte fingida de pernas quebradas, sou a dor material, sou a lama. Meus lábios gélidos beijam as bocas vivas retirando-lhes o resto de esperança, mordo-lhes a língua, sugo-te o sangue, finjo ser aquilo que desejas, e te possuo, pinto telas com as mãos, como maças, lhe atiro fogo e vejo queimar, pois estou morto, já me falta o ar, e a busca incessante de ser não é mais, já não existe, enterraram-me vivo, sofro a asfixia de ser aquilo que um dia pensei ser.

- Bruno Bueno Requena

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